O tempo da música em cassetes gravadas pelos amigos.
Em que telefonava alguém para a escola a dizer que havia lá uma bomba e era só um dia sem aulas, não uma ameaça terrorista global ao Ocidente.
Em que líamos a Forum Estudante e sonhávamos fazer o Inter-Rail, ir a Marrocos, ao Egipto e a Budapeste.
Em que quando era para protestar contra a PGA ou as propinas, era mesmo a sério. E às vezes era preciso mostrar o rabo.
Em que éramos rebeldes.
Em que lutámos contra o Serviço Militar Obrigatório e vencemos.
Em que lutámos pela Amazónia e perdemos.
Em que andar na moda era usar as calças de ganga mais rotas do armário e nem interessava se era da Levis ou da Feira.
Em que fazíamos mais um furo na orelha para escandalizar a mãe, que as meninas tem um furo em cada orelha para usar brincos femininos mas às vezes nem por isso.
Em que sonhávamos crescer depressa para poder acabar com o liceu e a dependência das ordens de todos e ir viajar pela Europa fora de comboio e à boleia com a mochila às costas.
Em que, ao mesmo tempo, queríamos prolongar as tardes passadas com os amigos a comer gelados, a falar de livros ou só a conversar sobre coisa nenhuma.
Em que festa era sinónimo de ir para a casa uns dos outros, fecharmo-nos na garagem ou no quarto com um rádio e as cassetes dos Sitiados, dos Pearl Jam, dos Nirvana, dos Radiohead, dos Ugly Kid Joe, dos Quinta do Bill, e saltar que nem uns malucos sem medicação apropriada, e não uma discoteca da moda com camisas de griffe.
Em que ser jovem era ser uma coisa importante, mesmo que fosse só para nós, mesmo que fôssemos a Geração Rasca.
Às vezes, mas só às vezes, parece que o esquecemos.
E depois, acontecem coisas estúpidas que nos fazem recordar.
Foi-se o João Aguardela.
http://anaifa.blogspot.com/
1 comment:
E os concertos no Estádio de Alvalade...
O João foi para outro mundo e foi uma grande perda para todos nós...
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