Sunday, January 03, 2010

O fechar de um ciclo.

Há partes da nossa vida que formam um ciclo. Quando acabam, fecham-se.
Nunca vi as coisas dessa maneira, anteriormente.
Cada fase seguinte era a continuação da anterior. Havia processos pelos quais era necessário passar – os do crescimento, da evolução -, havia conhecimentos que se tornavam mais fugazes, mas não esquecidos, não deixados para trás permanentemente – colegas de brincadeira que vemos muito de vez em quando ou colegas do liceu que se perderam pelo mundo em conquistas.
Todos eles presentes, encaixados nas respectivas épocas, no desenrolar da nossa evolução.
Numa altura específica, foi necessário escolher deixar tudo o que conhecia para trás e meter os pés noutra aventura.
Fi-lo com medo, é certo, mas sem hesitar.
Quase tudo o que fui no passado, as pessoas que conheci, os amigos que fizera, a minha família, ficou encaixado – com maior ou menor profundidade - num cantinho meio escondido na minha nova vida, plena de novas descobertas, novos sons, novos sabores, novos amigos, novos lugares, novas exigências.
Algumas coisas não são possíveis apagar, porém. Ficam mais longe, surgem menos vezes no nosso dia-a-dia, mas é impossível fazê-las desaparecer.
Sempre gostei de escrever.
Foi acontecendo lentamente, e cada vez mais.
Hoje, é difícil passar um dia sem meter algo para o papel.
Numa altura em que isso era muito importante para mim, surgiu a facilidade de criar um blog. Este foi o primeiro, onde partilho o que me vai na cabeça, na alma, e na minha vidinha de doidos hiperactivos e desmiolados.
Eventualmente, criei vários, que um só não me parecia suficiente para conter tudo o que desejava escrever.
Muitas vezes, nos últimos meses, principalmente, pensei em deixar de o fazer. De vez.
Mas, lá está, esta é daquelas coisas que é impossível fazer desaparecer.
Mas sinto a necessidade de terminar com uma fase da minha vida. De a fechar num baú a sete chaves, metê-la rio abaixo e deitar as chaves à corrente.
Esta fase de que falo está intimamente ligada a esta página.
Não a pretendo apagar. Sei que daí vou tirar aspectos positivos, que sei que os houve.
Mas, de momento, os negativos marcam-me muito mais.
E cada vez que aqui venho, sinto que ainda sou a Marta de outrora, que não dei o passo em frente que pretendia dar, que era necessário que desse.
Cada vez que aqui venho, estou ligada ao passado.

E não pode ser.
O caminho é para a frente.
Atrás vamos buscar as memórias, ler as cicatrizes.
Há coisas que devia querer esquecer, de tão dolorosas que são – a quebra da confiança, e a quebra da amizade, dois dos valores mais importantes para mim.
Devia querer esquecê-las porque foram as que me estilhaçaram o coração, porque são as que devastam a alma, e que fazem com que, nos momentos mais negros, não acredite que o caminho em frente pode ser de luz.
Quando sei, cá dentro, que o é.
Mas sei que não as posso esquecer, porque através delas SEI distinguir a amizade verdadeira.
E sou capaz de reconhecer que, apesar de um coração partido não poder cicatrizar de todo, a confiança pode voltar a sarar.
Na época pior, pensei que a escrita seria um escape. É o que toda a gente diz.
Acho que ainda não estou distante o suficiente para ver todo o alcance dessa expressão, mas do ponto de vista psicológico foi algo bastante positivo, porque tenho uma prova documental de tudo o que passei, o que senti, os momentos de luta, os de esperança, os de confiança cega – e inútil -, os negros, os de luz, os sinceros, os hilariantes.
Tudo documentado, para poder ver sempre que sentir poucas forças.
Como um livro do meu coração.
Obviamente, tive necessidade de abrir outra página.
Incógnita.
O anonimato é uma bênção, garanto-vos!
Liberta, e de que maneira!
Há coisas que, creio, não hei-de mostrar a ninguém, que escrevi só para mim.
Mas não chegou.
E a resposta era clara, estava bem à minha frente.
Não chegava porque ainda estava ligada ao passado.
Apesar de sentir mãos a puxarem-me com força para fora dele, outras igualmente fortes prendiam-me a ele.
Estou a estender-me, é certo, mas quero deixar tudo dito.
Experimentei mudar as cores da página, as imagens, mas não era a mesma coisa.
Cada vez que aqui vinha, lembrava-me das pessoas com quem partilhei este terço da minha vida, a quem entreguei tudo o que era.
Por quem quase me anulei.
Quase.
Afinal, não sou assim tão estranha aos meus olhos.
A Z. comentava comigo no outro dia que, sem darmos por ela, já se tinham passado seis meses.
Seis meses inteiros de vida só da Marta.
Passou tudo tão depressa!
E tantas coisas que se passaram!
A desgraça de aniversário que tive, o mês seguinte quase sem dormir, a separação, depois o divórcio, a mudança de cidade, o arranjar o meu cantinho, a mudança, a arrumação dos meus tarecos, o emprego novo, as pessoas novas, meses em que as minhas noites eram cheias de pesadelos e de insónias, em que passei dos 50 para os 35 quilos, em que me sentia completamente desorientada, sem saber bem a que ponta me agarrar porque estavam todas tão longe e tão perdidas no tempo, em que me sentia abandonada pela pessoa em que mais confiava e que me magoou mais que tudo.
Passou tudo tão depressa!
Já não sou a Marta do L.
Apenas a Marta.
E este era o blog da Marta do passado.
Por isso, é perfeitamente lógico que fique por onde a Marta do passado ficou.
Não o vou apagar.
Há coisas que quero lembrar.
Há coisas que agora não quero recordar, mas que, calculo, um dia, queira recordar. Não sei com que sentimentos, ainda.
Apesar de os saber na vida da Marta do passado, não quero esquecer o que o que aprendi com os amigos sinceros desta fase que termina – a Mafalda e o Jorgix, a Carla e o Nuno, o Miguel, a Liliana e o Marinho, a Fátima e o Rui, a Sandra, a Jú, o Pedro Lúcio e a Marta, os doidos da concentração na Serra, a Susana e o André, o Edu, os pais do Edu, o Bruno, o André, a Dora, os tios fantásticos do Edu, e os “primos” todos da fotografia, o Carlos e a Ana, os pais do Carlos, a Vera Maia e o seu gato que via o Canal Panda para não se sentir sozinho, a Elf e os pais, o Sr. Rui e a D. Odete, os pais da Carla, da Fátima e da Liliana, e o avô sempre pronto para o bailarico, a Margarida de Sintra.
A Olívia, a Carla e o João.
Há seis meses atrás, mais coisa, menos coisa, decidi que não encaixava ali, naquela situação de doidos.
Decidi mudar de cidade.
Ir para um lugar de que gosto, onde me sinto em casa.
Lutar por mim, longe de todo o veneno que me rodeava.
Estava mais próxima da minha família. Foram o meu maior apoio. Principalmente a minha mãe, que conheci melhor do que no resto da minha vida. Afinal, ela passou por uma parecida. E eu também a consegui compreender melhor.
Descobri, mais do que a fraternidade, a amizade do meu irmão mais novo. Que ele me faz bem, e que eu lhe faço bem.
Voltei a estar mais próxima dos amigos que sempre se mantiveram – a Zabete e a Índia. Com esta última nem sequer estive pessoalmente, mas senti o mesmo apoio que sentiria se fosse a minha vizinha do lado.
Senti o apoio inesperado da parte de pessoas que mal conhecia, e convites para noitadas a sério que acabam a chegar ao chuveiro a meio da manhã seguinte e com um peso fora dos ombros.
Ando constantemente a cruzar-me com pessoas que desapareceram da minha vida durante anos, mas que agora insistem em espreitar atrás das esquinas uma e outra e outra vez, como que para ter a certeza que as vejo bem.
Mudou o ano. Mudou a agenda onde escrevo. Era lógico mudar qualquer coisa cá por dentro.
Como arrumar um armário e ficar com a sensação que se arrumou a cabeça.
Outra página surgiu.
E esta fecha-se.
Estamos sempre a aprender.
Um passo de cada vez.
A vida é uma viagem.

Estes são os votos para este novo ano que acabou de espreitar por entre os aguaceiros!
Que seja de Saúde, Aprendizagem, Amor e Amizade verdadeira, e conquistas valorosas!




Saturday, January 02, 2010

Estavam danadinhos, não estavam?

Pois já deviam andar a pensar para com os vossos botões onde é que raio andava a autora do estaminé, que há uns tempos não punha aqui as mãos.

Andei por aí, numa história que envolve uma dose excessivamente elevada de camarão, graças a Deus ou a sei lá quem não sou alérgica, uma dose não tão elevada de espumante que me lixou as filhoses e quase a véspera de Natal, e uma ou outra decisãozita de vida.

Enfim, achei por bem vir para aqui partilhar as imagens do tornado que passou por estes lados, eu quase nem dei por ele, é certo, que aqui nas traseiras do prédio o vento faz sempre rodopio, e depois de uns anos em Peniche, ventania é coisa à qual já estava habituada, pelo que de manhã achei estranho o alarido, que os vizinhos ainda tinham as peúgas e os tapetes estendidos, mas no resto da cidade era árvores arrancadas, muros caídos, contentores da reciclagem no meio da estrada, cada qual para seu lado, postes curvados até ao chão e outras coisas afins.

Esta é ao pé do ex-Parque de Campismo de Santa Cruz, do outro lado da estrada.

Aquela coisa, habitualmente, estava em pé. E os sinais direitos.

Ali ao fundo, estava uma cruz de pedra. Caíu.


As estufas do senhor foram todas pelos ares.

Miraculosamente, um pouco mais à frente na estrada, a porra da casa do emigrante na Alemanha, que se gaba de vir para cá de propósito no Natal para ter o barraco mais enfeitado do concelho e aparecer no jornal local, apesar de um pouco atordoada, nem sentiu os efeitos...

O pinhal dos Casalinhos ficou devastado.
Ia para lá em miúda fazer piqueniques.

Pormenor da estrada.

O catavento, meio abananado, mas manteve-se!

Árvores deste tamanho arrancadas!