Monday, March 03, 2008

O Português comum e o seu coentro.

O blog da moda resolveu, desta feita, uma vez que a sua presentemente deslavada mas habitualmente mais tostada autora anda, assim à primeira vista, sem nada de mais importante para fazer, dedicar-se a dissertações filosóficas de cariz cultural, em termos gerais, e das peculiaridades da espécies lusa, em termos mais particulares.
Isto deve-se ao facto de, após mais uma jantarada bem regada, nesta ocasião com uma pomada vinda da Sicília, não directamente, pois correu o Norte de África todo, a luz ter chegado aos olhos da autora do blog que lêem, que viu sob outro prisma situações que, à partida, lhe pareceram curiosas, mas às quais ela não conseguia entregar uma explicação.
É coisa frequente de acontecer nestas alturas: descobrirem-se verdades, filosofias, curas para flagelos e sinais divinos. Além de contactos com seres de outros planetas.
Em Peniche, é habitual encontrar pessoal estrangeiro que vem à aventura.
E é sempre divertido conhecer pessoas e culturas diferentes. Logo, de quando em vez, temos pessoal desse cá por casa, para partilhar experiências.
Foi o que aconteceu um dia destes.
Convidámos o Brando e o Eirik para experimentar a especialidade lusa “Entrecosto no forno com batatinhas a murro”.
O Brando veio do Norte da Itália e trouxe o vinho, rapinado de forma ilegal e relativamente sorrateira da adega do padrasto. Tem muita dificuldade em dizer a palavra “amêijoas”, mas ensinou-nos várias palavras e expressões italianas que não vêm nos dicionários e desvairou com os Blasted Mechanism.
A forma como conheceu Tricky, o rafeiro que dorme com ele na carrinha e que podemos designar como “companheiro de viagem” foi, no mínimo, curiosa, e podia, realmente, dar um filme indiano de grande sucesso.
Ia o Brando para casa com uma bezana do caraças quando pára o carro ao lado de um cão que caminhava solitário na estrada, abre a porta do passageiro e pergunta, em italiano, claro: “Queres boleia? Anda, que eu levo-te.”
O quatro patas aceitou prontamente, e entrou no carro.
Sabem aquelas manhãs esquisitas, quando acordam de uma noitada e têm uma miúda desconhecida ao vosso lado na cama que não sabem como lá foi parar?
Pois o Brando tinha ao lado dele na cama um cão desconhecido que ele não sabia como lá tinha ido parar!
Afinal, o cão era de uns vizinhos, que o deixaram ficar com ele, e assim ele tornou-se Tricky, o cão co-piloto.
O Eirik é da Noruega e tinha um trabalho complicado e extenuante que incluía visitas a plataformas petrolíferas. Um dia, farto daquilo, disse a si próprio: “Se eu hoje vir uma baleia, largo esta m*** toda!” Passou a viagem inteira a olhar os fiordes pela janela do avião. Quase à chegada, finalmente, uma baleia dignou-se a presenteá-lo com a habilidade do rabo. Obviamente, quando assentou os pés em terra, despediu-se, agarrou numa carrinha e partiu em direcção ao sul.
Uns tempos depois, o avião onde ele viajava explodiu. Parece que se despediu a tempo…
E cruzaram-se estes povos diferentes aqui em Peniche.
Enquanto anda toda a gente convencida que o nosso passaporte para a fama, e a melhor forma de iludir os bifos, fazendo-os crer que somos pessoas normais, é apresentar o Cristiano Ronaldo ou a Mariza, os vulgo “estrangeiros” identificam-nos, na verdade, pelo uso excessivo que o Povo Português faz desta erva aromática, o que, apesar de ser um hábito comum para nós, é em quantidade absurdamente brutal para os camones.
Foi assim, num momento comum, num dia comum, que a autora do blog se apercebeu que, às vezes, complicamos demasiado as coisas.
Como descendente lusa e saloia raça pura, a autora do blog manifestou a sua veia de imperador romano (que eu tenho um imperador romano no nome!), e despachou logo toda a gente para a frente da televisão, para ficar como domínio da cozinha todo para ela.
Como pessoa civilizada com uma educação do Norte da Europa, o Eirik achou por bem vir até à cozinha perguntar se era preciso ajudar.
Mas isso foi só uma desculpa.
Logo a seguir, revelou os seus verdadeiros motivos: “Are you going to use coentros?”
Bem, parece que o desgraçado correu o Alentejo todo, e foi massacrado com o belo do coentro.
Não tive coragem de perguntar se ele queria coentros porque tinha gostado muito, ou se ele estava pelado de medo que, mais uma vez, uma mulher portuguesa numa cozinha portuguesa, o fosse obrigar a meter ainda mais quantidade de coentro para dentro do seu corpinho nórdico nada preparado para estas abruptas alterações genéticas.
Mas uma coisa é certa: o “Entrecosto no forno com batatinhas a murro” passou com distinção no teste!



Bem, não é com imagens destas que o nosso Cristy é conhecido, espero…

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