Nunca me incomodei com o facto de uma pessoa fumar ou não.
A decisão é individual – dessa pessoa apenas. Os seus motivos também.
Tal como nunca me incomodou o facto de a pessoa que vai ao meu lado no autocarro ser freak, ter piercing, tatuagem, ser freira, preta, dependente de cafeína, gostar do João Aguiar, mas só dos livros juvenis, gostar de gatos, de cães, de iguanas, de canários, de peixinhos dourados, ou de todos ao mesmo tempo, ser gay, ser straight mas ter 8 namoradas, ser straight e ter 8 namoradas mas ainda nem acabou a escola primária, ter cabelo preto, loiro, castanho claro, castanho escuro, cor de rosa, cor de laranja, com madeixas vermelhas, com madeixas brancas, azul, carapinha, azul e carapinha, ter tido um acidente com a tesoura e ter cortado a franja de forma indecente, ter sindroma de Tourette e insultar o condutor (isso, bem vistas as coisas, não arrelia ninguém!), ser uma senhora idónea agarrada a um livro do Harry Potter, ter maminhas postiças, ter nariz postiço, ter lábios postiços ou tudo ao mesmo tempo, ter uma paixão assolapada pelo Tony Carreira, ou por Citroëns Dois Cavalos,…
Agora, fico mesmo lixada é quando chego, finalmente, à minha meia de leite – quentinha, tão bom nestes dias gélidos e húmidos, com espuma, atestada de cafeína, com aroma de campos de café de S. Tomé – , tão ansiada, tão desejada, as veias já a vibrar descontroladas com a expectativa e com a falta do néctar a correr por elas, e quando vou dar a primeira, ardentemente almejada, golada desta ambrósia dos deuses gregos … vem um estafermo que expele uma gigantesca golfada de cigarro que me vem parar direitinha à meia de leite e vai tudo para baixo misturado, e eu fico mal disposta do corpo e da alma para o resto do dia!
E eu sou só uma formiguinha. Incomodo-me e pronto.
Mas fico verde de raiva quando fazem isto, e eu olho para a frente e a minha amiga está com uma barriga de 7 meses de gravidez. Ou se há crianças. Ou idosos. E regra geral há. Infelizmente, geralmente acontece ser a própria mãe de uma criança pequena a autora da fumarada poluidora. Em ambiente fechado ou não, tem efeitos.
As palavras expressam-nos. Podem ser fortes, podem ser calorosas, podem congelar-nos a alma, podem destruir uma cidade.
Há aquela palavra em que muita gente no nosso país ainda acredita fervorosamente: LIBERDADE.
Liberdade para fumar quando EU quero, quando EU precisar, quando bem ME apetecer.
Infelizmente, e bem o sabemos, há muita gente que se vale dela para enganar os seus compatriotas.
Também acredito nela, no seu poder, no seu abrir de alma e de mentalidades.
Mas depois há outra que eu valorizo mais:
HUMANIDADE.
A Humanidade dá valor à vida. Sem distinções.
1 comment:
Lindo!
Sempre jovial e tão clarividente!
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