Thursday, January 31, 2008

Sobre tigres e isso, afinal.


Eu gosto de gatos.
Isso é assunto encerrado.
Não gosto de circos.
Isso é outro assunto encerrado.

Fui uma vez ao Jardim Zoológico, quando era miúda. Uma única vez.
Lembro-me que a minha mãe me obrigou a levar uma roupa que eu detestava, e uns sapatos aos quais descolei as solas depois desta aventura. Sapatos à menina.
Lembro-me que o meu irmão me deu uma pisadela daquelas (sem querer, é claro, ele estava de costas e eu estava mesmo atrás dele), mas que me fez, nessa altura, ver à frente um Deus sorridente com barba de Pai Natal e os anjinhos a piscar à volta dele.
Lembro-me dos tigres. Lembro-me que arrebanhei a máquina fotográfica e que tirei fotografias a todas as poses deles.
Fiquei arrepiada com as grades.
Com o espaço demasiado estreito, com a falta de vegetação selvagem, com aquela gente toda ali à roda, a apontar, a olhar fixamente, a observar.

Não era assim que devia ser para os tigres. São animais selvagens. Deviam estar na selva, e não numa jaula. Toda a vida.

No circo é muito pior. São amestrados – “treinados”.
A réstia de personalidade própria que possam ter é arrogantemente extirpada a troco de aplausos.
O seu habitat natural resume-se agora a uma jaula 10 vezes mais pequena que a que teriam num Zoo. Têm espaço apenas para dar dois passos. Um para cada lado.
Recebem pedaços de bife como se fosse um prémio, recebem golpes de chicote quando são eles próprios e não o que os mandam ser. Recebem ordens. Insultos. Os miúdos parvos vêm gozar com eles, cheios de bazófia, porque só são “corajosos” quando o seu adversário está limitado por umas grades. Algum deles alguma vez foi capaz de olhar sem medo um tigre nos olhos?
E depois vêm os Donos dos Circos dizer para a televisão que os animais “têm muitas condições, são muito bem tratados e são muito felizes”.

Quem seria feliz assim?

P.S.: Desculpem lá o azedume de hoje, mas deixei-me levar.
Isto era para ser um post a embicar com a Sininho, que foi de propósito à Azambuja para ver os tigres, mas que apanhou uma bicha, digo fila, daquelas e só viu uma caixa preta. Bem, do Cartaxo à Azambuja não é muito longe. Vir de Felgueiras é bem mais humilhante.

Mas tive pena que a fêmea enfurecida não tivesse comido uma perninha ou um bracinho a alguém. Girl Power!!

Será que ela já tinha posto a patinha num tufo de erva?

No comments: