Há aqueles momentos cruciais na nossa vida, em que temos apenas 2 hipóteses: andar para a frente ou recuar.
Se temos tendência para o primeiro, é bom sinal – somos pessoas minimamente evoluídas em termos de consciência e com um nível de maturidade que já não é nada de se deitar fora. Mas, por vezes, esquecemo-nos.
E andamos para trás. Aí, meus amigos, recebemos de braços abertos a pior maldição da humanidade desde os fungos venenosos no túmulo do Tutankamon – tornamo-nos pessoas traumatizadas.
Tal como muita gente que conheço, passei a minha infância nos anos 80.
Quando nasci, em virtude de não haver ainda uma proliferação de Jardins Infantis, fui despachada para o lugar que mais conveio aos meus pais: a casa dos meus avós.
Na altura, o bairro onde eles moravam estava um bocadinho afastado da cidade, pelo que foi quase como morar numa aldeia – a minha vidinha oscilava entre estar dentro e fora de casa . No exterior, esfolava-me, trepava árvores, corria os campos, fazia de conta que era explorador, pirata, aventureiro, detective e, muitas vezes, equilibrista com tendências suicidas.
Dentro de casa, além de ser viciada em Três Duques, Cavaleiros do Zodíaco, Verão Azul, Dartacão e etc, passava a maior parte do tempo enfiada no sótão, a devorar os livros que a minha tia lá tinha guardados.
Ora ainda bem que falamos dela!
A minha tia Fernanda tem mais 11 anos que eu e, dadas as circunstâncias, não era bem uma tia – era mais uma irmã mais velha. Logo, a Marta andava sempre colada a ela. Esta situação trazia vantagens para ambas: eu observava avidamente as suas amigas adolescentes (lembrem-se que estávamos no auge dos anos 80 – foi uma experiência fascinante!!), e ela andava com uma pequenita fofinha, óbvio!
Um dos tópicos mais interessantes era o "passar a tarde na casa umas das outras a fazer coisas de raparigas". Mas, por vezes, a Marta aborrecia-se. Especialmente quando estava mais activa e com vontade de andar aos pulos como um macaco do circo do que estar sentadinha sossegadita.
Foi num desses dias, quando estávamos na casa de uma amiga que tinha cave, que tudo aconteceu. Eu já conhecia o lugar – era uma espécie de sítio para arrumação/rambóia, onde se enfiavam as coisas que já não tinham lugar em casa, e onde se celebravam os aniversários, passagens de anos, etc. Era um lugar escuro, com pouca luz, mobília escura, cortinas escuras… mas agradavelmente fresquinho numa abrasadora e aborrecida tarde de Verão.
Ora a Marta estava a fazer uma festa!
Sozinha, mas uma festa!
Que consistia, basicamente, em aproveitar aquela quantidade toda de espaço vazio para andar a rodopiar à maluca.
Eventualmente, com alguns saltos em cima do sofá.
Ora o que é que a família da casa achou que, por já não ficar bem numa sala ou num quarto de casal, ficava particularmente bem atrás de um sofá na sua soturna cave?
Uma cabeça de boi. Daquelas de "enfeitar".
Enorme. Preta. De olhos vivos. Para o meu tamanho, parecia gigantesca.
Foi uma verdadeira surpresa para mim este meu encontro com o Minotauro refugiado atrás do sofá.
Mas, passando os primeiros momentos de apreensão, e chegando à evidência de que não tinha ficado gaga, tinha os dedinhos todos na mão e conseguia discernir com clareza a porta de saída, conclui que, afinal, ainda se podia tirar uma conclusão positiva desta ocasião!
Por isso, de uma coisa posso estar certa: se eu não morri de ataque cardíaco nesse dia, não é disso que vou morrer!
4 comments:
Esperemos que não.
Talvez cesses como eu penso cessar um dia - através de um colapso qualquer.
Que se fodam os nomes, quando tudo não passa de colapsos ou... meros lapsos.
Lembro-me muito bem desse "Verão Azul"; "Dartacão"... tal como me lembro do Tom e do Conan.
O "Pais dos Rodinhas" a inesquecivel Maia e até o "Bana e Flapi". Ah... a "Árvore dos Patafurdios" ou "Os Cinco" e por aí afora.
Fiquei nostálgico!
Boas recordações! Eu sou mais ou menos da mesma época. Talvez um bocadinho mais velho. Não tive a tua "sorte", vivi sempre em plena cidade, pelo menos depois dos 3 anos.
E os meus tios eram todos bem mais velhos...
A minha gata chama-se Bani... e a outra que fugiu era a Flappy... Bidé... ( é que ela escondeu-se debaixo do bidé, e tivemos que revirar a casa toda à procura dela...)
Eu fui miuda nos anos 80, mas sou uma frustrada por isso: devia ter nascido nos anos 70, para gozar os 80's no auge dos meus 16 anos!
Isso é que deve ter sido porreiro, pá...:)
Miaus!
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