O Magnífico (e outras coisas) Don Giorgio

Esta foi também para a Antena 3, no passatempo
do elogio ao Botas. Era para uma caixa com DVD's dos Sopranos.


Carta da Mamma de Don Giorgio


Meus queridos senhores,

Se é para fazer um elogio a Don Giorgio, ninguém é mais competente e tem mais qualificações do que a sua Mamma adorada!!
É por esse motivo, e numa afoita tentativa de desmistificar a perniciosa e totalmente equivocada imagem que parecem ter de mio bambino, que me ofereço para esclarecer as dúvidas.
Don Giorgio sempre foi um bambino sossegado. Nunca deu trabalho à sua Mamma – sabia torturar sem fazer muito barulho, e nunca daquele quarto vieram cheiros pouco comuns a qualquer buona casa siciliana!
E isto quando Don Giorgio tinha apenas 2 anos de idade – notámos logo ali a sua grande vocação para seguir o negócio da família. Foi uma alegria muito grande para todos nós, um momento de muito orgulho, em que aproveitámos para matar de uma assentada os 5 filhos de Don Piero, assim a modos de celebração!
Tão bonito que ele era! Sempre o foi, o mio bambino!! Tão apresentável e sossegado, ficava-me sempre bem nas fotografias, a segurar no seu novo instrumento de horror, fosse este um torpedo lança-chamas ou uma simples mas eficazmente perversa gazua!!
E que bem que cantava, parecia um anjinho do coro da igreja. Partiu-me as loiças todas da Mamma Giulianna, aquela víbora da minha sogra, sempre a meter o nariz! Cáspita maldita, hás-de arder para sempre no fundo dos infernos! Aquele balázio que levaste no meio da testa foi só uma amostra!!
Foi de extrema felicidade para mim o dia em que chegou a casa com o diploma da 4ª classe, e a cabeça da professora a arrastar pelo chão, cortada de uma só espadeirada. Tanto esmero no trabalho que tinha o meu filhinho adorado!!
O liceu passou sem grandes novidades, como seria de esperar. Aluno exemplar, sempre trouxe para casa boas notas e as melhores informações da parte dos professores, mesmo dos mais renitentes que, por vezes, nos forçavam a dar-lhes um pequeno empurrão... da escadaria da igreja abaixo, discretamente, à saída da sagrada missa dominical...

Portanto, parece-me bastante óbvio que considerem que Don Giorgio é um ser com as mais dignas qualidades, digno de exemplo e de, um dia, figurar entre as mais altas figuras do Vaticano, como aconteceu aos mais ilustres antepassados da nobre e excelsa Famiglia Bottinni!
E, como ele, sugiro que sigam o sábio e ancestral lema da Famiglia Bottinni: “O pior cego é aquele que anda sem bengala!” – que foi o que aconteceu ao tio-avô Luca, numa noite de verão em que apanhou uma valente tosga, foi para a Casa da Lanterna Vermelha, deixou lá a bengala, caiu numa valeta e já não se levantou. Mas deixou uma herança jeitosa...